quarta-feira, 24 de junho de 2009

Novos problemas, velhos remédios


Lucia Sauerbronn
Não anda nada fácil manter o bom humor. Mas a vida continua e a gente não deve se deixar abater, apenas aguardar os acontecimentos. Todo mundo sabe que o melhor forma de combater energia negativa é ter atitudes positivas, que contagiam o ambiente e melhoram o astral. Até porque bom humor faz bem para a saúde. Do corpo, do coração e da alma.
A medicina, que se desenvolveu muito nas últimas décadas, descobriu a cura para quase todos os males. Mas ainda não inventou uma pílula do bom humor. Já pensou? No dia em que a gente acordasse com cara de poucos amigos, bastaria tomar uma dose para sair dando pulinhos de alegria.
Antigamente, quando havia remédio para pouca coisa e ir ao médico era um luxo, o jeito era apelar para a sabedoria popular. Toda avó sabia uma receita infalível para resolver qualquer problema. Lumbago, espinhela caída, sapinho, bicho do pé, falta de dinheiro e até dor de cotovelo se curava com simpatia.
Ninguém nunca compreendeu como as simpatias funcionam, mas que dão certo, ah!, isso dão. Por isso, enquanto a ciência não inventa a fórmula da pílula da felicidade, resolvi fazer uma pesquisa sobre o assunto. Descobri que não existe simpatia que devolva o bom humor. Mas achei algumas que servem perfeitamente para dar fim àqueles pequenos inconvenientes que acabam com a paciência de qualquer cristão. Ou muçulmano.
Se, por exemplo, o noticiário da TV fez você perder a fome, mastigue umas folhas de salsa. Ou, ao contrário, o assunto lhe deu azia e má digestão, cheire um pouco de vinagre e tome chá de losna. Perdeu a voz de tanto de torcer pelo gol – que não saiu – nas eliminatórias da Copa? Coma cenouras cozidas no mel. Anda com medo de afundar no mar de lama? Pois saiba que esfregar cinza quente nas costas protege contra afogamentos. Caso tenha resolvido afogar as mágoas num copo de bebida, a solução é outra: ressaca se cura pingando no ouvido gotinhas de limão.
Não há nada que estrague tanto o humor quanto passar a noite em claro. Se você não conseguir dormir de preocupação, nada de ficar rolando na cama. Ponha um saquinho com farinha de trigo dentro do travesseiro e, para garantir um sono de bebê, bata antes meio chuchu cru com água e açúcar e tome tudo de uma vez. Conseguiu dormir, mas teve pesadelos? Mantenha uma tesoura aberta debaixo do colchão. Em tempo: se o que está atrapalhando seu sono é o ronco do parceiro, não precisa se irritar com o coitado. Chame São Roque que o barulho pára na hora.
Agora, se a insônia é causada por problemas financeiros, dinheiro não vai faltar se você colocar moedas debaixo de uma estatueta de Buda, ou guardá-las dentro da caixa de alfinetes. Arrume também um vaso de uma planta chamada dinheiro-em-penca e cuide dele com muito carinho.
Depois não diga que não avisei. Quando o dinheiro começar a entrar, pode atrair mau-olhado. Nesse caso, apele de novo para o poder das plantas: tenha em casa trevo de quatro folhas, arruda e comigo-ninguém-pode, que dão sorte e cortam quebranto. Se um deles minguar, atenção: é caso de olho gordo. Passe a andar com três dentes de alho no bolso. Aí o benefício é duplo, todo mundo sabe que alho espanta vampiro.
Medo de ser assaltado? Ofereça três moedas aos gnomos e esconda debaixo de um móvel na entrada da casa ou sob o tapete do carro. Aproveite para fortalecer seu anjo da guarda, acendendo uma velinha para ele sempre que puder.
Até os males do coração têm remédio com simpatia. Quem acredita em Santo Antonio que o diga. Para arrumar namorado, escreva numa fita azul o nome da pessoa e conte sete estrelas no céu – sem apontar, senão dá verruga. Depois coloque a fita nos pés da imagem do santo e faça seu pedido. Santo Antonio sofre, mas também adora dar uma mãozinha em reconciliações: amarre sete fitas coloridas na sua estátua e vire-a de cabeça para baixo. E não desvire antes que vocês dois sejam confundidos com um casal de pombinhos.
Você pode achar que tudo isso é uma montanha de asneiras. Mas não custa nada tentar. Se não fizer bem, mal não faz. Como diria minha avó espanhola, “yo no creo en brujas pero que las hay las hay”.
Por outro lado, é bom lembrar que as simpatias são uma tradição brasileira, fazem parte do folclore de um País que respeita todas as religiões e credos. Exatamente a tolerância que falta para que povos tão diferentes como afegãos ou irlandeses conquistem a paz. O que me faz pensar que talvez não haja mesmo remédio nem simpatia que cure mau humor. Basta ser simpático.
Crônica publicada na Coop Revista - Novembro / 2009

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