quarta-feira, 24 de junho de 2009

Dieta radical





Dieta radical
Alerta vermelho! O ponteiro da minha balança subiu quatro pontos! As roupas não fecham! E em pleno verão! Dieta já!
Para perder quilinhos extras, o dr. Atkins recomenda tirar pães, arroz, massas e até frutas. Devo comer só proteínas: carne vermelha, ovos e queijos à vontade. Ôba! Já na segunda, troco o café manhã por lingüiça frita. No almoço, caio de boca numa picanha. À noite, engulo cheeseburguer com maionese. Terça, espanto o sono com ovos e bacon. Quarta, feijoada. Quinta, rabada. Na sexta, pernil. Confiro a balança: perdi dois quilos. E também o sono. O estômago pesa, a noite não passa. Pesadelos me assaltam. Estou deitada numa poça de sangue de vacas e porcos retalhados. Passo a semana seguinte à base de alface e abobrinha. Engordo três quilos.
Experimento a dieta de Beverly Hills. Que mal há em comer um só tipo de fruta por dia? Frutas fazem bem, têm vitaminas, sais minerais. Segunda, abacaxi; terça, melão; quarta, papaya; quinta, melancia. Na sexta, passo direto pela quitanda e entro na pizzaria.
Compro um kit de emagrecimento. Devo trocar as refeições por shakes. Pareço criança em sorveteria. Experimento chocolate, baunilha, morango. Cinco dias depois, jogo o kit pela janela. Com liqüidificador e tudo.
Pela dieta dos pontos, posso comer qualquer coisa. Desde que em parcas porções. Preciso anotar o que ponho na boca e conferir numa tabela o número de pontos de cada alimento. São 300 pontos diários, ou 1.080 calorias. Dá um trabalho danado. Para simplificar, escolho os mais calóricos: big mac e um prato de brigadeiro. Às cinco da tarde, morro de fome, mas resisto. Acordo de madrugada e assalto a geladeira.
Todo verão surge uma dieta nova. O autor vira celebridade. Dá entrevistas na TV. O livro vira best-selles, sai em DVD. Todos querem aprender como perder peso sem fazer força. Meses depois, a dieta revolucionária cai em desgraça. Ninguém consegue se manter magro.
Resolvo fazer meu próprio regime. Margarina tem gordura trans, e engorda tanto quanto manteiga. Substituo açúcar por adoçante, que não tem calorias. Em compensação, contem sal que retém líquido, aumenta a pressão arterial e dá pedra nos rins.
Produtos diet são a delícia dos diabéticos. Mas para ter boa textura, tortas, cremes e chocolates recebem dose extra de gordura que, como a própria palavra sugere, engorda.
Adoto a culinária oriental. Fora lutador de sumô, nunca vi japonês obeso. Além do mais, sushi tem ômega 3. Faz bem ao coração. Não estou acostumada a engolir peixe cru. Para disfarçar o sabor, capricho no shoyo, salgado como água do mar. Os japoneses não sofrem de doenças cardíacas. Por outro lado, são campeões em derrame cerebral.
Opto por alimentos light. Pães, biscoitos, bolos e até pizzas com 0% de gordura. Só que tudo isso é carboidrato. Normal ou diet, têm o mesmo valor energético. Troco o queijo branco por ricota. A diferença quase não pesa na balança. Já o sabor, nem se compara.
Procuro me conformar. Com computador, controle remoto, celular e carro para ir até a padaria, cada dia me movimento menos. É natural que acumule mais calorias do que consigo gastar. Danem-se os regimes. Resolvo retomar velhos hábitos alimentares.
Tomo um bom desjejum: café com leite, pão, manteiga, queijo prato. Às 10hs, belisco castanhas. Almoço arroz, feijão, bife e salada de tomate com azeite. Sobremesa, banana com canela. Lancho uma barrinha de chocolate. Janto omelete, verduras e legumes. Arremato com uma taça de vinho tinto, que ninguém é de ferro. Antes de dormir, preparo um mingauzinho de aveia.
Faz três semanas que me livrei das dietas. Pareço outra, me sinto feliz. Durmo como um anjo. Minha pele melhorou. O colesterol e a pressão caíram. O ponteiro da balança também! Devo estar doente. Perdi peso comendo!
Consulto o médico amigo da família. Ele explica que comer de tudo um pouco é o caminho mais seguro para emagrecer e se manter saudável.
Café melhora o aprendizado, o reflexo, a concentração e a memória. Leite e derivados são saudáveis e previnem osteoporose. Feijão e arroz formam uma dobradinha perfeita. Seus aminoácidos se completam: o que falta num, tem no outro. Carne vermelha evita anemia. Azeite e tomate ajudam a desentupir as artérias. Frutas, legumes e verduras e frutas secas contêm vitaminas, sais minerais. Combatem os radicais livres. Chocolate estimula a serotonina, hormônio do bem estar. Aveia é rica em fibras, que ajudam o organismo a funcionar melhor. Já a lista de benefícios do vinho é enorme: aumenta a longevidade, é um antibiótico natural, anti-depressivo e rejuvenesce.
Voltei a ter prazer em comer e sinto menos fome. Durmo melhor (oito horas de sono por dia emagrecem) e acordo tão disposta que levo o cachorro para dar uma volta no quarteirão.
No próximo verão, preparem-se: vou lançar a dieta da mamãe.
Crônica publicada na Coop Revista - Janeiro / 2.007

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